Dor de cabeça constante pode ser tumor cerebral?

Nem toda dor de cabeça é sinal de um tumor cerebral — mas em alguns casos, pode ser um sintoma de alerta. Saiba quando investigar e quais exames fazer.
Introdução
A dor de cabeça é uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos, portanto não precisa se desesperar se você sente algum tipo de dor de cabeça. Mas quando ela se torna frequente, intensa e diferente do habitual, é quando merece investigar mais e responder à pergunta: “será que pode ser um tumor cerebral?”
A verdade é que, embora a maioria das dores de cabeça tenha causas benignas, existem algumas características que são chamados de SINAIS DE ALARME (no inglês Red Flags). Quando estas características estão presentes vale a pena investigar um pouco melhor e buscar ajuda especializada.
Quando a dor de cabeça pode indicar algo mais sério:
1. Pior pela manhã
A dor costuma ser mais intensa ao acordar e pode vir acompanhada de náuseas ou vômitos — consequência do aumento da pressão dentro do crânio durante o sono.
2. Progressão ao longo dos dias ou semanas
Dores que pioram gradualmente, mudando de padrão, merecem atenção.
Tumores cerebrais geralmente causam sintomas que se intensificam com o tempo, e não dores que vão e voltam. Diferente das cefaleias primárias e benignas, que geralmente tem padrão de crises de piora intercaladas com períodos de melhora.
3. Associada a outros sintomas neurológicos
Procure avaliação médica se a dor vier acompanhada de:
• Crises convulsivas
• Fraqueza ou dormência em um lado do corpo
• Alterações de fala, visão ou equilíbrio
• Mudanças de comportamento ou memória
Esses sinais podem indicar compressão de áreas cerebrais específicas.
Por que o tumor causa dor?
O tecido cerebral em si não dói!! Essa é a primeira coisa importante, porque só o fato de ter um tumor no cérebro não causa dor. O que causa o incômodo é o aumento da pressão intracraniana, devido ao crescimento do tumor, ao edema (inchaço) e à dilatação dos vasos sanguíneos. Além disso pode haver uma liberação de citocinas inflamatórias do tumor, que causam irritação de receptores de dor e outras estruturas dentro da cabeça, principalmente as terminações nervosas nas meninges — as membranas que envolvem o cérebro — gerando a cefaleia.
Exames que ajudam a investigar
O primeiro passo é uma avaliação neurológica completa. Nesse momento um neurologista geral pode ajudar, ou mesmo um bom clinico geral. O exame físico neurológico pode identificar sinais sutis de compressão cerebral, mesmo antes da imagem.
Os exames mais usados são:
1- Ressonância magnética do crânio
É o padrão-ouro para diagnóstico. Permite identificar tumores pequenos e diferenciar lesões inflamatórias, vasculares ou infecciosas.
2- Tomografia computadorizada
Útil em situações de urgência ou quando a ressonância não está disponível. Geralmente é o exame mais usado em cenário de Pronto Socorro, já que é um exame mais rápido, barato e disponível. Detecta lesões volumosas ou com sangramento.
Em alguns casos, o médico pode solicitar exames complementares (angiografia, espectroscopia, PET-CT) para definir a natureza da lesão.
O que fazer se o exame mostrar uma massa?
Primeiro, respire. Até 70% das massas acabam sendo benignas. Nem toda massa é um tumor, além disso, a palavra “tumor” não significa, necessariamente, câncer. Muitos tumores cerebrais são benignos, como os meningiomas e schwannomas, e podem ser tratados com segurança.
O próximo passo é buscar um neurocirurgião especializado em tumores cerebrais, que irá definir:
• O tipo e a origem do tumor
• A necessidade (ou não) de cirurgia
• Outras opções, como radiocirurgia, observação ou tratamento clínico
Conclusão
A dor de cabeça é comum — o tumor cerebral, NÃO. Mas quando ela muda de padrão, vem acompanhada de outros sintomas ou simplesmente não melhora, é hora de investigar.
Em neurocirurgia, o tempo é parte do tratamento. Diagnosticar cedo pode fazer toda a diferença entre um caso grave e uma história de recuperação completa.
Se você sofre com dores de cabeça frequentes e sente que algo mudou, procure uma avaliação especializada.

Dr. Matheus Bannach
Neurocirurgião especializado em neuroncologia. Dedica-se ao tratamento de tumores cerebrais e medulares, sempre buscando as técnicas mais avançadas e menos invasivas para seus pacientes.
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